quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O que sobe tem que descer...

O texto a seguir eu escrevi no dia anterior ao nascimento da Luíza. Escrevi como uma forma de desabafo e principalmente uma homenagem ao futuro papai.

Espero que gostem...

BJS

Parece que foi ontem que vi naquele teste de farmácia o símbolo de +, que indicava – claro – positivo!

A sensação foi estranha, assustadora, deliciosa, desafiadora. O mais engraçado é que depois de nove meses, as mesmas sensações voltaram a tomar conta dos meus pensamentos.

Será isso uma reação ao medo do desconhecido? Ou apenas a famosa síndrome da mãe de primeira viagem? Seja lá o que for, o frio no estômago é intenso, profundo, quase palpável.

Hoje, véspera do dia do parto, comentei que a sensação é muito parecida de quando estamos subindo a mais tenebrosa montanha russa do mundo (e olha que já rodei por várias). São segundos intermináveis, mas que irão acabar e você sabe que vai cair de uma altura fantástica. Nesses segundos de subida vários pensamentos aparecem, um dos mais latentes: O que estou fazendo aqui? Depois, com a descida brusca, o frio no estômago e a adrenalina, segue-se a sensação – Consegui!

E é isso. Um medo bom. Isso existe? Acho que sim. Tenho medo da cirurgia, tenho medo da anestesia, tenho medo de não conseguir ser uma boa mãe. Mas quando penso na Luíza, tudo passa. Vem uma certeza tão concreta de que ela será uma parte de mim para o resto da vida! Alguém que ainda não teve filho consegue sentir isso? Acredito que não.

Essa pequena criatura, que ainda nem nasceu, tem o meu DNA. Mas será que ela saberá quem realmente eu sou? Será que eu saberei quem realmente ela é? Mas será que esse não é o grande desafio da vida de uma mãe e de uma filha? Será?

Acho que esse depoimento terá mais pontos de interrogações e palavras como “será”, “acredito”, entre outras que possam exprimir o desconhecido.

Sinto que já tenho o famoso instinto materno. Protejo minha cria. Dispenso ajuda. Quero fazer tudo sozinha. Estou agressiva. Tente beijar minha barriga para ver... (Aliás, por que as pessoas insistem em fazer esse ato tão invasivo?).

Vou confessar que no início da gravidez achei um tanto difícil “conversar” com aquele bebê virtual, que eu só via através de uma tela de computador, nos diversos exames realizados. Sempre que me perguntavam se eu tinha o hábito de conversar com o bebê, a resposta vinha quase como um raio – “claro!”. Que nada! Hoje, às vésperas de ver o rostinho dela, parece que tenho uma enciclopédia de idéias que quero contar a esse pedacinho de mim. Será que ela lê meus pensamentos? Isso certamente daria maior agilidade ao processo...

Hoje o telefone não pára. Um tanto irritante. Mas sei que todos querem transmitir carinho, solidariedade, bons pensamentos e principalmente amor. Como disse, sim, estou agressiva. Mas logo fico com os olhos marejados quando minhas amigas contam suas experiências com seus partos, e percebo seus esforços em me deixar mais calma.

Sempre me julguei controlada, do tipo que antecipa os problemas para tentar resolve-los o mais rápido possível, ou mesmo que tenta esquecê-los quando se vê que não há a mínima solução. Por esse motivo eu acredito que estou tão ansiosa e nervosa. Essa não é uma situação que eu possa fazer nada. E a verdade é uma só: entrou, tem que sair... Subiu, tem que descer... Essa é a montanha russa da vida – inexorável.

Mas por que estou tão sensível, nervosa e especialmente amedrontada? Eu tenho uma família maravilhosa, que vai receber a primeira neta, a primeira sobrinha, a primeira filha com o maior amor do mundo. Amigos mais que fantásticos. Tenho condições físicas, mentais, sociais, econômicas e principalmente emocionais para receber a minha filha de braços abertos. Minha filha...

Mas um capítulo a parte é destacado para o pai de minha filha. Ele foi escolhido pelos meus hormônios, pelo meu corpo, pelo meu pensamento, pelo meu desejo, pelo meu amor, pela minha alma. E hoje ele está tão feliz, tão completo, tão cheio de paternidade saindo pelos poros que fazem – novamente – meus olhos encherem de lágrimas. Será que estou à sua altura nesse momento?

Nesses cinco anos de casados, e quase 15 anos de convivência, eu só tenho a destacar o seu caráter impecável, sua força, suas certezas, sua crença, tudo me faz tão bem... E que perfeita será nossa corrente que ganhará mais um elo a partir de amanhã. Tão pequena e frágil parece essa corrente. Mas como é forte e inquebrável, mesmo tendo apenas três elos. E quem consegue quebrar uma corrente como essa? Nada, nem ninguém.

Então é assim... Amanhã, nessa hora, já teremos uma filha nos braços. E tenho a mesma certeza de que o medo terá passado e o amor terá tomado conta. Por que tanta certeza? A montanha russa tem seu percurso, às vezes longo, às vezes curto, mas com começo, meio e fim. Amanhã será o fim de um trajeto e certamente o início de outro. Mas quem disse que não estamos sempre à procura de novas montanhas russas?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Senhoras e Senhores: O Parto!

Com a cirurgia agendada para as 16h, eu não podia comer nada, nem ao menos beber água, a partir das 8h. E parece que quando temos alguma restrição vem a fome, a sede e tudo mais que não puder fazer.
Futuros PPV (pais de primeira viagem), curtimos cada instante - dos últimos - a sós. Depois de um belo café da manhã, era uma questão de minutos para termos a pequena Luíza nos braços. Aí começaram os devaneios sobre a cor dos olhos, dos cabelos, se ela seria um bebê chorão, ou um bebê meigo. Enfim, não agüentávamos mais aquela espera...
Já no hospital, parecia que estávamos dando entrada em um hotel. Percebi que se tratava de uma maternidade quando uma das funcionárias que me atendeu disse: “Agora você subirá para o quarto e nos veremos no ano que vem.” Como? No ano que vem? “Claro, quando você vier para cá ter o seu segundo filho”, completou a enfermeira. (!!!) Achei divertido (???) e parti para o quarto – depois de toda triagem necessária.
Uau, que quarto bacana. Agora me confundi novamente, maternidade ou hotel??
Depois de alguns instantes entrevista com anestesista, a parte que eu mais temia... Agora chegou um aventalzinho com o qual eu e meus acompanhantes demoramos vários minutos para entender como vestir. E cadê a roupa do papai? Afinal, ele assistirá ao parto. Ah, essa chegou pouco tempo antes de entrarmos no centro cirúrgico.
Chegou a cadeira de rodas! Yes! Nunca andei com cadeiras de rodas, e é bem bacana!! Acho que deve ser assim que a Luíza se sentirá no carrinho de bebê, ela vai adorar!!
Antes de entrar no centro cirúrgico a touca – coisinha ridícula (foto acima)... Mas tudo bem... Despeço de todos e da minha barriga também. Como diria o homem do baú: Abrem-se as portas da esperança... Adorei! Parece que estou entrando no cenário do ER, ou do House. Amei!
Já na sala de cirurgia, chegou o meu algoz, o anestesista. De cara já anunciei meu medo sobre o desconhecido e pedi que ele narrasse todo o processo. Meu médico, tão querido, pediu para que eu debruçasse sobre um travesseiro e não fechasse os olhos, pois poderia vir o enjôo. Um, dois e três. Já comecei a sentir o quadril formigando e voilá – anestesia aplicada, sem dor, sem incômodo, sem problemas. Adorei! Será que a anestesia pegou mesmo. Doutor, por favor verifique se estou anestesiada... Ele disse: “Sentiu isso?” Nada. Ok, estou anestesiada. Ufa. Pode começar.
“Rápido, rápido, coloque a mãe deitada na mesa”, “Chame o pai para ver o parto”, “Tudo OK, vamos começar”. Ai, é agora!
O futuro papai ria – de nervoso. E eu cantava com a música ambiente na sala. Eu ouvia meu médico pedindo ao auxiliar para verificar o meu estado, e ele respondia: “Ela está ótima, está cantando”. Hihihi
O cheiro do bisturi elétrico na carne é um tanto desagradável. De repente uma pressão. O anestesista vem por cima da minha cabeça e ajuda a empurrar. “Pai, venha ver sua princesa!” Flashes. Flashes. Não acredito, Ulysses que tem tantos problemas ao ver sangue, assistindo ao parto. Inacreditável, a paternidade realmente muda a pessoa. Fiquei de olho nele, mas nem se abalou com a cena.
Cadê o choro do bebê? De tanto assistir Home & Health aprendi que o choro no primeiro instante de vida é primordial. Perguntei ao médico o porquê dela não chorar. “Calma mãe, ela já vai chorar.” Assim que ele disse isso, veio aquele som dos deuses, um choro fininho, baixinho, parecia um gatinho miando. Tão meigo, tão fofo. Mas seria normal? O melhor não é um choro forte? “Não mãe, cada criança tem um choro característico. Mas acredite, depois de algumas semanas você vai desejar esse choro baixinho novamente”, falou a voz da experiência... E ele tinha razão...
Mas cadê a nenê? Papai, veja porque está demorando tanto para eu ver a Luíza. Mas havia passado apenas 15 segundos. Parecia uma eternidade. Eu queria vê-la. Eis que a enfermeira traz aquele corpinho de 49,5cm e 3,405kg. Meu Deus, que bebê mais lindo! Nenhum bebê em nenhum dos programas do Home & Health era tão bonito quanto o meu. A primeira coisa que falei foi exatamente isso: Ela é linda! Esse momento eu nunca mais vou esquecer. Minha primeira filha, saiu de dentro de mim, leva minha carga genética, depende do meu corpo para se alimentar e já me olha tão profundamente, reconhecendo minha voz. Nos próximos minutos eu não via nem ouvia nada, apenas a tocava e me comunicava através do olhar.
Os quatro dias e três noites que se seguiram na maternidade foram ótimos. A bebê ia suja e voltava limpinha. Ótimo! Se ela chorava muito era só chamar a enfermeira. Perfeito! Mas isso acabaria em breve. Dessa mordomia eu sentiria falta mais para frente...
Na saída da maternidade ouvi novamente, desta vez do segurança do andar: “Até o ano que vem”. Ok, agora e já sabia o que significava e respondi com um sorriso no rosto: “Até”. O rapaz ficou todo feliz. E eu também. Aliás, com a minha princesa nos braços, nem percebi o que eu tinha respondido. Ano que vem? Será? Acho que não, né?
Depois desses dias sem ver a rua, saí com a Luíza nos braços e esperei o carro chegar. Confesso que senti um medo profundo. Aquele mundo áspero, poluído, agressivo, bactérias, vírus, buzinas, cigarro. Monstros querendo a minha pequena. Respirei fundo, coloquei a nenê no cadeirão do carro e disse para mim mesma: “Agora é a vida como ela é”. E fomos para casa. Bem, aí é outro capítulo.

Beijos a todos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

“Greatest Hits” da gravidez

Gente, que legal esse negócio de Blog! Tantos comentários! Tantos incentivos! Tantos elogios! OK, críticas e sugestões também são muito bem-vindas.
Estou curtindo demais. E aqui vai uma promessa, pelo menos uma vez por semana terá novo conteúdo por aqui. Nem que eu coloque apenas dicas para as futuras – e atuais – MPV (mamães de primeira viagem – rs) ou descreva o dia com a Luíza. Mas, estarei por aqui...

Bem, voltemos à saga da gravidez...

Resultado em mãos, começa um turbilhão de perguntas nas cabeças do futuro papai e da futura mamãe. Sabe o mais engraçado... Quando jogamos na megasena sempre ficamos imaginando o que faríamos com o dinheiro. Quem nunca fez isso na vida? A probabilidade de alguém ganhar sozinho o prêmio acumulado é 1 em 1 milhão. Já, a chance de engravidar era bem maior e já estávamos a caminho de realizar tal sonho. Mesmo assim, para o prêmio em dinheiro sabíamos direitinho por onde começar, já para o resultado confirmado...
Lista de nomes. Menino ou menina? Qual será o médico para o parto? Cesárea? Normal? Qual maternidade? A barriga já aparece? Putz, não posso pintar o cabelo. Começo hidroginástica amanhã. Será que o dinheiro vai dar? Seremos bons pais? Doces? Tô fora. A partir de hoje alimentação saudável. Que escola ele fará? Qual faculdade? Intercâmbio? Ah, isso faço questão, e sem essa de Miami!!! Ok, para a Disney a mamãe leva. Ok, para a academia o papai leva. Depois de tantos devaneios, a realidade bate à porta... Vamos começar pela arrumação do quarto do futuro bebê. Socorro! O quarto-escritório-bagunça se formou no dia que começou a abrigar presentes de casamento. Conclusão, cinco anos de meras arrumaçõezinhas aqui e acolá. Agora a faxina seria inevitável.
A partir daí, eu poderia aqui descrever cada mês da gravidez, mas não acredito que isso interessaria a todos os leitores. Por esse motivo, resolvi fazer um “Best of” ou “Greatest Hits” dos nove meses e chegar logo ao dia do nascimento.

Mês 1: Atualmente a gravidez é identificada em semanas, mas serei tradicional e dividirei em meses. Achei um médico excelente. Nada de enjôos. Vida sexual normal. Nenhum desejo de comer coisas estranhas. Barriga zero (só a tradicional).

Mês 2: Nada de enjôos. Vida sexual normal. Nenhum desejo de comer coisas estranhas. Barriga zero (só a tradicional). Portanto, ainda nada de regalias em metrô, ônibus ou fila de banco. Droga!

Mês 3: Nada de enjôos. Vida sexual normal. Nenhum desejo de comer coisas estranhas. Barriga nível 3 – discreta - as pessoas ficam na dúvida de ceder seu lugar no metrô, achando que podem ofender uma mulher acima do seu peso. É estranho estar grávida, mas sem barriga de grávida. O médico diz que sou louca e que depois vou rir dessa ansiedade. Hidroginástica. Fim de alguns medos quanto à formação do feto e o perigo de aborto espontâneo.

Mês 4: Nada de enjôos. Vida sexual normal. Nenhum desejo de comer coisas estranhas, mas invento alguns apenas para me aproveitar da situação. Barriga nível 6 – agora sim! Peso controlado. Ufa! O bebê mexeu! Parece uma barriga roncando de fome, mas é diferente. Inexplicável. Sensação de um “alien” no seu ventre.

Mês 5: Nada de enjôos. Vida sexual normal. Barriga nível 7. O bebê mexe muito mais.

Mês 6: Nada de enjôos. Vida sexual normal. Barriga nível 8 – acho que já está bom assim. Começa o verão. Será meninaaaaaaaa! Começo a ficar um tanto agressiva. Meu marido acha que estou um tanto selvagem e passa a me chamar de Madagascar. Acho que são os hormônios...

Mês 7: Nada de enjôos – sensacional! Nada de estrias – melhor ainda. Vida sexual normal. Barriga nível 10 – cresce mais? Segundo o médico, agora vai crescer e muito. Biquíni na praia. Me sinto a própria Leila Diniz. O nenê será Luíza, em homenagem a minha mãe. Mais hormônios tresloucados. Mais agressividade. Bati o carro, tudo bem com a Luíza.

Mês 8: Continuo sem enjôos. Vida sexual quaaaase normal. Barriga nível prá lá de 10. Começa a faltar o ar para dormir e sinto um calor absurdo o tempo todo. Mas a barriga continua sem estrias – perfect! Haja óleo de amêndoas e creme Nívea. Luíza já conhece a nossa cachorrinha, quando ela late, o bebê dá pulos dentro de mim. Incrível! Caí na rua e fui ao P.S. Está tudo OK com a Luíza, mas fiquei com a mão imobilizada e uma bela dor nas costas. Apenas 9kg acima do peso que estava no início da gravidez. Vitória!

Mês 9: Sem enjôos. Vida sexual? O que é isso? Barriga grande demais! Agressividade no auge. Please, baby saia logo! Falta de ar. Droga, apareceu uma estria do lado inferior direito da barriga. Ninguém vê, mas eu vejo! Dez passos e parada para respirar. Minhas costas doem MUITO Engordei 3Kg em apenas 20 dias. Please, baby saia logo. Ansiedade. Medo da anestesia. Medo do parto em si. Medo da nova vida que dependerá exclusivamente dos meus cuidados.

Na quinta-feira, dia 17 de abril, fui ao obstetra. Como na última consulta, nada de contração ou de dilatação. O médico foi muito sincero ao explicar que nesse caso o melhor seria partir para a cesariana. Mas, eu estaria à vontade se quisesse esperar mais alguns dias. Conversas e mais conversas, decidi então realizar o parto no sábado.
Apenas o momento do parto rende um post exclusivo. Mas posso adiantar que é mágico.
Nesse momento, quase sete meses após, eu não consigo – e não quero – esquecer o choro delicado da Luíza e seu pequeno corpo, tão bravo ao respirar pela primeira vez, sobre o meu. O tempo parou. Foi surreal.
Ah, lembra do último post que eu falava sobre ser mãe como um título vitalício? A partir do dia 19 de abril de 2008, às 16h50, em São Paulo, eu me tornava mãe daquele ser, que vira a se chamar Luíza Parolo Amabile. Ninguém, nem nada, jamais poderá tirar isso de mim. Apenas o cordão físico foi cortado. Uma ligação invisível sempre existirá. Não importa onde estaremos, em qual época, em qual plano espiritual, a Luíza sempre será minha filha.