sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Mães?

Nos primeiros posts que escrevi comentei sobre a lamentável atitude de certas pessoas que abandonam seus filhos à própria sorte. Deixei para comentar essas atrocidades depois que você tivessem lido toda a emoção que senti ao me tornar mãe. Assim, poderiam entender a minha indignação. Não quero dizer que se eu não tivesse a Luíza poderia achar tudo normal, mas posso garantir que a revolta é bem maior.

Hoje mesmo ouvi uma notícia de uma mãe que havia abandonado sua bebê de três meses para fora do seu barraco. Depois que a polícia encontrou a neném já com as roupas molhadas e as mãos roxas de frio, acharam a “mãe” DORMINDO no calor de sua cama. A justificativa da “carrasca” aos policiais foi que ela não teve a intenção de abandonar a filha, mas a colocou fora de casa porque ela chorava muito e não a deixava dormir (!). Preciso comentar??? Não é a idade da mãe (19), ou mesmo sua posição social justificativa para tal ato, essa mulher é um monstro, não existe outra explicação.

Antes de engravidar, cada notícia que ouvia ou lia sobre o chamado “abandono de incapaz” – nome jurídico dado ao abandono de bebês ou qualquer ser humano que não consegue se defender – me deixava revoltada. Como que aquela mulher, que não desejava engravidar, que literalmente jogou fora seu próprio filho, poderia ter sido agraciada com a dádiva da maternidade. E eu, que desejava mais que tudo, continuava na frustrante espera mês após mês. Sempre considerei injusto demais. Só mesmo uma explicação além da vida poderia me fazer engolir as estórias que só se multiplicavam nos noticiários.

Hoje não é diferente. Não é diferente o meu pensamento, muito menos a freqüência com que vejo tais notícias. Em uma pesquisada rápida nos sites de procura é fácil encontrar estórias inacreditáveis. Para quem nunca leu sobre o assunto, aí vão alguns links (só deste ano):

14/03/2008 - Bebê recém-nascido é abandonado no Ipiranga
http://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2008/03/14/ult4469u21121.jhtm

26/02/2008 - Polícia procura mãe de bebê abandonado em Franca-SP
http://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2008/02/26/ult4469u19997.jhtm

04/10/2008 - Bebê abandonado é achado em rua do Rio
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u452175.shtml

14/08/2008 - Recém-nascido é encontrado em sacola de papelão no Recife
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u433595.shtml

28/07/2008 - Menina é abandonada dentro de saco de lixo em Salvador
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u427082.shtml

11/07/2008 - Recém-nascida é abandonada em pesqueiro na zona rural de Valinhos
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u421584.shtml

01/06/2008 - PM encontra bebê dentro de carro abandonado na zona sul de SP
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u407560.shtml

02/12/2008 - Recém-nascido é encontrado em fossa em Planaltina de Goiás
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u474190.shtml

01/12/2008 - Bebê encontrado em lixeira no Guarujá (SP) passa bem
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u473789.shtml

Eu poderia passar horas e horas copiando e colando os links para que vocês lessem cada matéria. O mais incrível é que na maioria dos casos os bebês sobrevivem e logo estão com a saúde perfeita. Certamente esses seres iluminados têm um papel importante a desempenhar ao longo de suas vidas.

Algumas perguntas me atormentam quando leio as notícias. O que será que passa na cabeça dessas mães? Elas têm motivos reais para abandonar um filhotinho, tão indefeso e que estava dentro fazia nove meses? Elas premeditaram a cena? Elas sonham com o bebê depois que o abandona? Será que há arrependimento? Será que esse filho foi gerado por descuido, ou abandoná-lo foi o único método “anticoncepcional” pós-concepção que elas tinham acesso?

Será que alguém que larga um recém-nascido na beira de um rio poluído ou mesmo dentro de um saco de lixo realmente acredita que ele possa ser encontrado? Será que quem faz isso com tanta crueldade possa alegar simplesmente insanidade? Enfim, a última pergunta: Quantos bebês abandonados não foram encontrados? O destino deles eu não quero nem imaginar.

É isso. Um desabafo que compartilho. Ainda não consigo ignorar ou sentir pena dessas mães. Apesar disso, nunca saberemos os reais impulsos que levaram essas mulheres a agir de tal forma. Bem como, nunca saberemos quantas mulheres ficaram felizes ao saber que a espera na fila da adoção chegara ao fim em decorrência da atitude infeliz de uma mãe. Daí surge uma linda história de amor maternal. E é essa mãe que terá o prazer inebriante de ver seu filho – mais que legítimo – dando o primeiro sorriso, como esse da Luíza.

Um comentário:

Anônimo disse...

A princípio, temos a tendência de achar injusto que uma "mãe" destas que abandona seu filho no lixo tenha a dádiva de ser mãe enquanto outras tentam por longos anos e não conseguem esta felicidade. Mas, se pensarmos bem, veremos que cada um tem a sua cruz: para uns é a dor de não conseguir engravidar e para outros é a dor da culpa pelo abandono do filho que, cedo ou tarde, chegará na consciência (ainda que seja após a morte, o que, convenhamos, deve ser bem pior!).
Sei que Deus é justo e que todas estas situações são necessárias para o crescimento das pessoas. Não estou querendo, com estas palavras, justificar estes atos bárbaros e cruéis. Estou apenas tentando compreender os motivos (embora não concorde com eles) para não enlouquecer com tanta coisa ruim que vemos por aí.